História de imigrantes é tema de série especial da TV Rio Sul - parte 3

Reportagens fazem parte do projeto 'Histórias para Contar de Novo'. Especiais serão exibidos até dezembro, na última semana de cada mês.

Dona Elena, viúva, 96 anos da mais pura sinceridade. "Eu gostei dele, não achei bonito, mas não era feio também não", disse a hoteleira Elena Bühler.

Ela está falando do marido, Roberto Bühler, um dos sete filhos do casal Christoph e Anne Marie. Eles vieram de Sttutgart, na Alemanha, em 1913. Cinco anos antes, outros alemães, além de suíços e austríacos, desembarcaram na região de Visconde de Mauá. Terras até então esquecidas, que despertaram interesse depois da crise da escravidão e do café no Vale do Paraíba. Os imigrantes seriam a base dos núcleos coloniais, patrocinados pelo governo brasileiro com o objetivo de produzir frutas europeias e cereais. Mas não deu certo.

"Pra escoar a produção não tinha como, a estrada era horrível, levava até doze horas de carro de boi até Resende, levava cinco horas de trem pro Rio e doze horas de Mauá pra Resende. Então não se escoava produto, perdia tudo, quando vinha o atravessador, ele pagava nada, né", explicou a hoteleira Norma Bühler.

A situação era tão difícil que muitos imigrantes vendiam objetos de casa para ganhar dinheiro. Na rotina amarga, o pinhão, alimento típico, era a salvação da lavoura. "Era o que eles completavam a alimentação, porque às vezes faltava mesmo de tudo", contou.

A família Frech passou pelo mesmo problema. Karl-August e Regina saíram de Schorndorf para melhorar de vida. Tiveram dez filhos, oito nascidos no Brasil. Inicialmente instalados na área de Maromba, desceram para a atual vila de Visconde de Mauá, onde os descendentes vivem até hoje. A hoteleira Cristina Frech lembra de quando o avô trabalhava em Resende para sustentar a família.

"Ele ia a pé na segunda de manhã, trabalhava lá e voltava no sábado, a pé, pra ver a família aqui", lembrou.

O núcleo Mauá se emancipou em 1916, mas não havia motivo para comemorar. Sem apoio do governo, ficou impossível sobreviver da lavoura. Os alemães que permaneceram aqui precisavam se reinventar. Como a região tem uma natureza exuberante, várias opções de trilhas e escaladas, e um clima que lembra muito o da Europa, não foi difícil escolher em qual ramo investir.

O turismo era a saída. As pensões foram as sementes do negócio. Os imigrantes cediam os próprios quartos para os hóspedes. E trabalhavam muito. "Lavava, cozinhava, passava, passava, cuidava da horta, das verduras, cuidava do jardim, fazia de tudo", disse Elena.

Comentários

Postagens mais visitadas